Por causa da pandemia de coronavirus e da impossibilidade das emissoras de TV em gravar de forma ágil, para que se respeitem todos os protocolos de segurança sanitária, desde o ano passado estamos assistindo a reprises nos três principais horários de novelas. Com exceção das exibições das reta-finais de “Amor de Mãe” e de “Salve-se Quem Puder”, o brasileiro assistiu a sete reprises, distribuídas às 18h, 19h e 21h.
No próximo dia 19 de julho, a Globo passará a exibir mais uma “edição especial” no horário das 19h, e ao que tudo indica, trata-se de “Pega-Pega”, de 2017. Que a autora Cláudia Souto e os hóspedes do “Carioca Palace” me perdoem, mas, há outros folhetins da emissora carioca que são muito mais memoráveis e merecem um relançamento em seu horário original, como “Sangue Bom” e “Morde e Assopra” – sendo a última, escrita com a colaboração da autora de “Pega Pega” – que conquistaram uma repercussão altíssima na época em que foram exibidas e ainda hoje são lembradas – muito mais do que a nova possível reprise.
A trama, escrita pela antiga parceira de Walcyr Carrasco, narra a história de um roubo de 40 milhões de dólares de um cofre em um luxuoso hotel do Rio de Janeiro, mostrando como suspeitos, hóspedes e envolvidos e seus respectivos desdobramentos. Entretanto, engana-se quem pensa que a história vai se tornando uma narrativa chamativa, pois, mais ou menos no capítulo 40, a novela mostra que a trama central é fraca e incapaz de sustentar bem a obra até seu fim. Por causa disso, o roteiro passa a destacar algumas tramas paralelas ao plot central, como o assassinato da primeira mulher de Eric (Mateus Solano) e a relação entre Maria Pia (Mariana Santos) e Malagueta (Marcelo Serrado).
Como se diz no Nordeste, “lá pelas tantas” a autora relembrou do assalto e o transformou novamente na trama principal, mas, isso não impediu de que a novela ficasse extremamente parada, criando a famosa “barriga”. Ademais, o texto não ajudava muito, pois não era nada crível e se assemelhava a um teatro infantil, além de ser confuso e de não aprofundar tramas que eram simplesmente “jogadas” em cena, sem serem aprofundadas. Isso deixou a novela ainda mais chata e mal desenvolvida – embora a premissa fosse extremamente interessante. E ainda vale ressaltar que, pelo texto ser tão ruim, era notória a atuação duvidosa de boa parte do elenco, que parecia estar no piloto automático ou no “tanto faz”, com exceção dos brilhantes Marcelo Serrado, Irene Ravache e da brilhante Mariana Santos.
Lembro que, apesar de ser uma obra que não era muito comentada, a audiência foi alta para os padrões da época (29 pontos, em uma meta de 25), uma vez que a Globo ainda se recuperava de uma crise no horário. Mas, a novela apenas deu uma ótima audiência – o que me faz crer que esse é o principal critério para a escolha dessas reprises que temos visto na TV dos Marinho.
Apesar de ser uma novela que pouco teve repercussão – realmente, quase ninguém comentava – “Pega Pega” tem grandes chances de ser melhor lembrada, caso se torne “menos barriguda”, uma vez que a edição pode caprichar desta vez, agilizando os fatos da trama. Quem sabe, se os editores agirem desse modo, a trama possa ter uma audiência semelhante à exibição original. E, mesmo assim, ainda penso que há tempo para a poderosa escolher um título de maior apelo popular e de melhor crítica para reprisar, mesmo que não seja em HD, afinal, a história de Cláudia Souto, hoje, tem mais a ver com o “Vale a Pena Ver de Novo”.